sábado, 2 de janeiro de 2016

lembrança de mim

lembrança de mim
tudo que dorme
deveria ser contemplado
não basta saber dormir
apronto-me para o dia
projeto minha ilusão
para além da vida
procuro-me no silêncio
da luz
desamparada e esquecida
a alma tornar-se-á vazia
no nada do dia a dia
cru e vivo é o tempo
engulo o incomensurável na finitude
me perco no absoluto e sua fúria
ao querer compreender a penumbra
o corpo é uma armadilha
sangrento os dias
não sei de nada
do que é estar morta
nas dobras da vida
perderei o que sou
morre-se com máscaras
de felicidade no escuro
compreender a vida
é deslizar para dentro do ser
sou dona do meu corpo
a morte não tem jeito
engasgo-me neste abismo
meu corpo grita
o vazio triste
hóspede da Terra
me encho de perguntas
recortada
suporto-me viva
sou poeira da mais fina
cega, aborto os dias
faltará luz dentro de mim
insuportável é amar a
Terra, o gozo, o outro
morta não serei
vista pelos vivos
desastrada lembrança de mim
vasta, afundo-me no mundo
perco-me para saber quem sou
existir na Terra
decifra-me.
Fotografia: Arô Ribeiro, com René Misumi
Estudo- Elogio à sombra

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