sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

ambiência

ambiência

nesta terra marcada
um remanescente único
se cresce

a raiz absorvida de
silêncio
nasce imobilizada
do som antes da vida
além da voz
e vida

no limite
sem movimento
o secreto
o sexo
o corpo  sem religião
ajustado pro fim

sem voz
a omissão.




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

só porque erro



só porque erro

só por isso...
acho  o que não busco
faço o labirinto

a procura
o desconhecido
o porquê  da busca

só por isso...
só  porque erro
me alicerço

o erro
a liberdade.





terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

esquerda

esquerda

todo homem
sabe dos anjos que
vivem em si

um
bárbaro se negando
a ser
o outro em louvor
sustentado.

não se admiram
são  mistério dividido
no contra são inteiros.

na dualidade de ser
fundamentam vida e morte
no  precipício da mesma
existência .
Hilda Helena

Arte William Blake

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

lutar contra ligas
que vivo
contra limites e o que
não é narciso em
mim

o  perigo real
a batalha vivida
alicerça um terreno
sem mata
sem terra.

Hilda Helena

domingo, 19 de fevereiro de 2017





perdidos no
momento
temos asas livres

na brisa leve
somos um do
outro

nas palavras raras
um querer claro

a vida breve
bate asas e
depois nada.

Hilda Helena

sábado, 18 de fevereiro de 2017

limite

limite

morro sempre
mato-me
invento raízes
libertas da carne

ressuscito argila
de olhos úmidos
em órbitas vazias

cansa ser
morte
viver a vida
no breu

na solidão do outro
o encontro da  terra
dada por gentileza

mortos em mim
ressuscitam
no medo
guiados pela carne
aflita

teço teias
adentro bosques
levo mar e aves
com riso aberto

ser penitência
brasa
espinho
no secreto
consumir
da própria chama

existir estranha lavra
sem sonhar eternidade
tatear sombras
no amor reservado

mirabolantes
afetos imprecisos
ser  tomada
possuída

cubro-me
no peso do
limite da carne

Hilda Helena Dias

Foto: Sebastião Salgado

Serra Pelada, 1986

nada além disso

nada além disso

perdido na desordem
o medo sem defesas
não sabe o que
dizer

a vida
no delírio sem controle
dá risada
o vivo não se cala
escolhe viver

Hilda Helena

gênero

gênero

na infância
os contos de fadas
nada falavam de
mim

fragmentada
nos castelos lendários
lendas me aqueciam


em desertos
o desdobramento
do afeto e amor

sem nada entender
de voos e pássaros
desenho meu voo.

Hilda Helena

William Blake

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

movimento

movimento

a fonte secreta
se oculta do
início divino
de si

o fluxo das águas
se move num caminho
impensado
evolução eterna
jamais chega ao
fim

destino essencial
todo dela

no final a fonte
da vida se vê sem
solução
morre no movimento
do eterno vivo

consciente de si.

Hilda Helena

domingo, 12 de fevereiro de 2017

pó divino

Pó divino

separada da morada
dos deuses
mesclada de sol
e terra
passeio na Terra

nas sombras sem lua
contrária ao vento
entre dois mundos
me vejo no outro

ouvidos abertos
na ternura
veem o sangue
purificado

perfeito amor
que não se divide
na carne punida
se faz.

Hilda Helena

arte:William Blake

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

identidade

identidade

o amor
será passado
direi adeus
as muitas que
sou

no labirinto
me faço
o corpo move à
medida do amor

um rosto de
barro esquecido:
memória...

Hilda Helena

gravidez

gravidez

olho os escorpiões
no meu pouco de
terra

o novo nasce
velho
a dor passeia
no muro da
morte

no medo
multiforme e
calado
o amor.

Hilda Helena Dias

Arte:William Blake

ouro

ouro

submissa à terra
sou tomada
aceito perecer
sem que a morte
de mim se
esqueça

o amor em brasas
na sombra
soprará
agonia e gozo

no silêncio pesado
a voz do amor
se fará na
eterna dor

no outro
o ouro
mais fundo.

Hilda Helena

sem repouso

sem repouso

no escuro
o claro de mim
faz o corpo opaco
aparecer

não me vejo
nem sei de mim
a verdade em sombras
é minha

o corpo assustado
fechado no portal
sem freio canta a
vida e sangue

sem limites o
amor pulsa
sem repouso
na ideia me faço

Hilda Helena

#alagunas GATILHO9

Gatilho pretende ser uma arma apontada de volta. Não só na cabeça, mas nos sentidos, na história, nas certezas, nos tipos que constituem o nosso Real e nos torna servos voluntários.

Contribuem para a edição: || Alberto Lins Caldas || Bárbara Bento || Bruna Wanderley Pereira || Carla Andressa || Cid Brasil || Fátima Costa || Felipe Soares || Gabriele Rosa || Geovanne Otavio Ursulino || Guilherme Ramos || Gustavo Petter || Henrique Pitt || Hilda Helena Dias || Iriwelton Caetano || Laís Araruna || Leonardo Viana || Lucas Litrento || Luna Salazar || Nayara Fernandes || Paulo César Moreira || Rubens Jardim || Sara Albuquerque || Sérgio Prado Moura ||

Acesse pelo link:
alagunas.com/gatilho

raízes

no  lugar mais fundo
de mim
raízes mudas
cantam
com voz de sol

a trajetória do
amor é ampla
nasce de flores
sono e
lamento.
Hilda Helena

a guerrilha

a guerrilha

libertos no limite
do  nada ser
carne e ossos
se exibem

sem peso
corpos sangrando
conversam com
a  vida

menores  ficam
na guerra eterna
gozam comendo
pedaços de si.

o monstro

o monstro

tensa
mergulho no
gozo momento
sorvo as horas
embriagada pelo
sangue
em minha veia

nada digo
não quero dizer
penso de dentro
entre fumaças
respiro
todo meu
eu

escancara pelo
corpo a
consciência
vejo o antes e
depois
iludo-me
de nada ser e
nem continuar
a ser nada
o ser em mim
luta com
a monstruosidade de
nada ser

de repente o
silêncio
minha língua
viva e monstruosa
de ser o horror
me fere

serei obstruído
do real
doente
não digo
que nada significo

recuso-me a falar
mergulho e falo de
dentro das dobras
que sou feita de
carne

contra todos
os contras
enlouqueço
supero-me
com a cabeça sangrando
não escapo de
mim
enfrento-me
sou um arsenal
em um corpo
disposto.

Hilda Helena Dias

coração extenso

coração extenso

nos dias longos de
noites curtas
temo no perpétuo
instante ser
brevidade do
infinito amor

apagar o existir
da matéria no
sangue
desordena

a ideia de existir
no outro
é ser céu de mim

o meu passado e
futuro o tempo
engole
degusta-se o
que em vermelho
a vida anuncia.

Hilda Helena Dias

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

herdeira

herdeira

o tempo
abandona o que
perfura
transpassa todos
lados

mitos convertidos
desmentidos
na comunhão das eras

destroços agora
são heranças
de mim.



Arte: Alice Welling
er

sábado, 14 de janeiro de 2017

perfeição

perfeição

a navalha não cansa
múltiplas imagens refletidas
descaminhos
esquinas
mistérios não domados

a arma branca não se 
submete
não se extermina
é disfarce
forma monopolista sem
representação 

o aço intimida fixo
com a delicadeza gélida 

disfarce bárbaro limpo
como ceder-te em gêneros 
uma experiência
uma designação?

Hilda Helena Dias

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

há de vir

Há de vir

virá o todo-poderoso
sombra corrosiva
respirando meu miolo
na torcida pétala
de carne

o que há dentro
será arrancado pelos
dentes do tigre
com lâminas o obscuro será
desenhado em sangue rosado
filtrado da veia explosiva

ao vento
longe da masmorra
me verei toda nua
em  círculos intensos
aspirando e vomitando
amores além da medida.

Hilda Helena Dias

indiferente à sorte

Indiferente à sorte

sou poeira vazia
que não cabe dentro de mim
a alma vazia reside no pó
sonho resíduos dos sonhos
do outro

com arame farpado
nas costas
a teia das sombras
não me guarda

sangro meus passos
cega de tanto olhar para mim
afogada no cansaço
da infinita procura

durmo humana
no desenho do nada
mato minha sede
sem saber quem sou

o meu nome será gritado
na ausência do corpo que
me sustenta

devorada sem dentes
contra a vontade
na fúria desordenada
deixarei de ser humana

na luz sem juízo da vida
a razão  pulsa
diante de ser barro

desapareço na loucura da
noite negra
dona de um prazer breve
canto
a alma na moldura é
indiferente

no contrastes das luzes
o sangue é lambido
o mundo que sei
é o que tenho

conhecer-me no depois
é promessa magra
sentida na delícia do nu

na fome do todo eu
seduzida pelo finito gasto
me retalho
gasto-me no nada
o nada fica pesado com os
pensamentos comidos.

feita de carne
sangro
deixo-me amar

Hilda Helena Dias

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

corpos revelados

corpos revelados

com fome nos comerão  
somos vício escuro da Terra
clareando o nada

no desejo da eternidade
diante do nada
brinco com o medo no exílio
de  encontros de perguntas

esquecendo da prisão
dos ossos possuídos
em neblina me canto
antes de ser pó

flutuo sobre a Grande Face
o amor juntando vazios
revela corpos raros .

Hilda Helena Dias
Arte: Ludovic Florent

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

crepúsculo do louco


crepúsculo do louco

num tempo de entardecer
ouvi o som indecifrável
de um louco

falava da língua molhada
da Terra
moldando sua carne a
minha
e jurava ser eu o Paraíso

ao seu toque inatingível
gritei sustentando
a própria vida

raízes de ninguém
saiam dele
na eternidade das luas
eram minhas

na volúpia dos corpos
celebrei o outro
entendendo ser eu .

Hilda Helena Dias


domingo, 8 de janeiro de 2017

silêncio

silêncio

o coração mudo
da alvaroda
carrega moluscos úmidos
do arco-íris

jatobás transbordam
os cântaros sem som

na sinfonia de segredos
o silêncio tecido em
casulos
atravessa a luz.

 Hilda Helena Dias

sábado, 7 de janeiro de 2017

reverência

reverência

desafio o limite
das emoções
secas e profundas

em silêncio
movem-se
de dentro

em minhas águas
lanço âncoras
comunico comigo
ideias selvagens
sem sentidos
falam de mim

o sangue
escava o não dito
o corpo clama
a existência nua.

Hilda Helena Dias

Urs Ficher

morte encarnada

morte encarnada

a carne que apodrece
deseja amor
sem o fim

com a fome de um
inquietante cardume
alimento-me de vidas
que não terei depois

deitado no breu
velo o coração
de Deus
o corpo de sonhos
deseja a morte da noite
encarnar a manhã

obsessão
lavar-me  na manhã
das águas não bebidas

Hilda Helena Dias

Arte: Thomas Eakins

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

grande coisa encoberta

grande coisa encoberta

mortos desenterrados
acordaram  belos
torcidos  das flores
depositadas nas covas

sem nada dentro
mortos ressuscitados
com carne limpa
nus se alegravam

o tempo
construído em casas
de pedras
passava sem vestígios

carnes  ao vento
no sol
queriam  sombra.

Hilda Helena Dias

Arte: William Blake

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

podada

podada

aparecerão anjos
depois da morte?
algum deles pronunciará
meu nome?
alguém me carregará
morta em seus braços?
carregará meu amor?

carregar-me-ão por
vaidade
me perderei
sem dizer meu nome
sem ter meus olhos

a vida se fechará para mim
meu dedo
não suportará o anel
o ouro será recolhido
pelo coveiro em outra
estação

ganho vida perdendo-me
na cena
depois de muitas podas
a vida me joga fora.

Hilda Helena Dias

Arte:William Blake

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

funeral de mim

funeral de mim

a  vida limpa
me olha
o corpo sem ser visto
leva a transparência

dando golpes na
memória
sem nada sentir
caminho pro vazio

no abismo
securas consumadas
dobro-me à terra
enraizando um
corpo de carne e
sombra.

Hilda Helena Dias

Arte: William Blake

(m/s)eu sangue

(m/s)eu sangue

mesclados de
céu e terra
corpos nas sombras
das luas ausentes
opostos ao vento
sonham  inocência

o sangue
no golpe da pedras
fala verdades mortas e
secretas

a solidão profunda
do amor
na carne punida
se faz

o ódio divino
atinge sonhos
deita  sobre o
tempo que virá.

Hilda Helena Dias

armadilha

armadilha

trança
sem encanto
arma  ataque

armadilha viva
respira cilada
sem expressão
se esforça e
sentencia

a teia prostibula
vive prenha
entre a esquerda e a
direita a
soberana emboscada.

Hilda Helena Dias

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

esfera celeste

esfera celeste

estrela maior
escapa a consciência

bola de fogo de
íntimo negro
cingido de luz.

Hilda Helena Dias 🌞
🌡🕸

sepultura

sepultura

falta um
remanescente
a sombra
imergir

a reminiscência
sem exatidão

falta um
nascer
vazio
quem sabe
saga

sem Pátria
no memorial
o nada.

Hilda Helena Dias

Foto: Arô Ribeiro

acabamento

acabamento

nada sei da minha
totalidade
ainda no ventre
antes do amor
existir
caminho pra sepultura

o buraco
que engole
meu caminho
me faz rir

em guerra com
a vida
o mistério
deito com
verdades e
vazios

pés
corpo
me seguram viva
enquanto devo ir
a alma é louca
desperdício de
emoções desmedidas

um som de
treva invadirá
a luz
sozinha escurecerei

perco-me na Terra
sendo luz
na cegueira silenciosa
sinto meu passo
inteligível

morta serei inteira
acabada
fiel ao que fui pensada.

Hilda Helena Dias

Fotografia: Arô Ribeiro