sábado, 25 de junho de 2016

espírito

espírito

vem de mim e
de minha carne
o obscuro
que se
disfarça de
faca e seduz
a fruta
para ser
mordida

os traços delicados
e simétricos
jamais me
busca
sou negra com
estampas purpuras

o espírito negro
incendeia o espaço
montado sobre
minha bunda viva

sou vício
escuro da
terra que
lateja.

Hilda Helena Dias
PHALLUS
Performance for Camera
Ana Montenegro and Bárbara Cunha, collaboration
São Paulo, SP, 2016

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Eterno

eterno

eterna ilusão
beber a água
onde a lua
se esconde

deito-me
como uma
égua negra
e bebo o
reflexo do
Sol

dominado de
ossos e fendas
acredito ser
ouro no
mundo
aprendi o
amor

a carne vadia
circula o
eterno
sem tocar

nada sendo
fantasio-me
de existir
e ser

sem boca
e mãos
com patas e
focinho
sou égua
embriagada.

Hilda Helena Dias

Arte Laurie Pace

terça-feira, 14 de junho de 2016

da vontade

da vontade

deus deseja
sem escapatória
pudor ou
vergonha

atrevido
e sem mentiras
movimenta-se
como serpente
fazendo presas

com intimidade
atravessa a
vida que sustenta

o corpo em
brasa
sobe a
a Torre de
Babel

farto de
beber e comer
cheio de queixas
afasta-se
e volta
a cada noite
sendo indo
me faz casa
sua carne
no corpo
deixa espinhos
que simula
dor
no Paraíso
que goza.

Hilda Helena Dias

secreto desejo

secreto desejo

para o poeta
a beleza da
fantasia
é realidade
utópica  do
imaginário
enlouquecido
jura sanidade
no auge
da loucura

no tédio de
existir
é volúpia
do sonho
parte do
real desvanecido

espectro de fantasma
vivo
ferve a carne e
sonho
regado pelas
lágrimas
inveja os que
dependem de
chuva

submetido ao
horror
sem suportar
o silêncio
dos astros
é profeta
das cinzas
amaldiçoadas

a tocar o sono
vê fantasmas
pensando rabiscos
no caderno
sem nada a
dizer
inadaptados para
o demasiado
trabalho

na memória
do tempo
tem esperança
na morte
carrega um
morto vivo
que vive
com ele

neste momento
acende o
cigarro e
olha a
mesma merda
de tentar
manter o equilíbrio
tropeçando no
desconhecido

no tropeço
jogando com o
destino
deseja e
ama o secreto
abismo.

Hilda Helena Dias

Arte: Tulio Pericoli, Virginia Woolf 1987

Sem Nome

Sem Nome

me enaltece
com seus nadas
traduz meus
passos perdidos
no caminho

a vida
brincando
com a morte
deixa no
brejo
a fé e a
razão

clamo pobreza
fel e
medo
o corpo
nu até os
ossos
como morto
talvez veja
luz.

Hilda Helena Dias

Foto: Arô Ribeiro
Santiago do Chile

segunda-feira, 6 de junho de 2016

deite comigo

deite comigo

a vida intensa
não se afastará de
mim
beberá
paixão e
inquietação

sem mim
ela é vazia
por isso invento
ervas negras
empresto meus
pés no chão e
minha carne
carmim

será fácil
entender a
razão de
buscar em
mim a
embriaguez

oh vida
deite-se comigo
me beba
extrapole essa
distância.

Hilda Helena Dias

Foto: Arô Ribeiro
(Estudo- Elogio à sombra.Esse é um estudo sobre o uso da luz)

sedentos

sedentos

a vontade
de beber a vida
nos põe de pé
salivando
procura-se
seu gosto seco
e reluzente

acariciando
os lábios
ela pede
lava-me

as manchas
vivas
irregulares e
distintas
cobrem a carne viva
rompem da alvorada
ao crepúsculo
desfeitas com
o tempo.

Hilda Helena Dias

Detalhes da emocionante performance "Tapete Manifesto" - Teatro Arena
Foto: Arô Ribeiro

Coração sem peso

coração sem peso

todos são sozinhos
na essência meu
sangue me transmuta
ressuscita-se
se elevando-nos
segredos que não
se entendem

amo-me
vejo meu eco interior
no corpo vivo
deslumbro-me diante
de ser mistério

trabalho comigo e
esvaziar-me-ei de
luz
concentro-me no
nada que me
toma e
ordena a solidão
profunda

não me aflijo
o amor é perfeito
calo-me
não tenho tempo
para tormento
a vida é curta
tento tornar os
momentos lógicos

dou nome a
mim
eu mesma me faço
batizo-me no meu
eu
nada se perde sentindo.

Hilda Helena Dias
Fotografia: Arô Ribeiro com Luís Mármora

domingo, 5 de junho de 2016

convite

convite

a carne que
geme
sofre e
morre
ouve a
chamada
da solitária
vida

seus copos
vazios
deixa repousar
o mais vivo
faz a tristeza
se tornar banal
nas rimas
e medidas

correndo com
sua pele pelas
ruas
com olhos confusos
na escuridão

embriagados
a vemos
tornar líquido
o mundo.

Hilda Helena Dias

MENOR

MENOR

sou hóspede
da vida
durmo em
tecido de junco
traçado de cores
misturadas
de delícias
horror e
ódio

amo-te
vida
polpa comestível
saliva
arbusto que
me trata

te adoro
descendo
és rio
que desce
pelas
entranhas
faz esquecer
casa
sorriso leve
a energia
da terra
mastigada
pelos dentes
postiços
os círculos
de pobreza

te bebo
invento abrigo
alimento
que sacia meu
querer gigante

conquistas-me
me chamando
ardente
me canta
e me ama

embriagada por
ser amada
tanto assim
me diminuo
pelos goles desperdiçados.

Hilda Helena Dias