sexta-feira, 18 de março de 2016

Canto partido

Canto partido
entrego-me a terra
na minha dádiva
ela generosa me
toma e aceita e
vê meu rosto igual
a outros mortos
o instante não
se afasta de mim
padeço no meu existir
e não me perco
no outro o
ouro mais fundo
coisas breves tomam
conta do ser
saga transformada
em chagas
em sombras e brasas
vejo o amor perdido
no sopro da agonia e
gozo
ouvirá o meu
silêncio pesado
porque o amor
se fez e conduz a
eterna dor e
desassombro
amo a terra como
mãe sofrida
vejo-a esplanada
livre de minha
aparência
afundada no vão da
terra
sou arcabouço no
descanso e rudeza
na morte de mim
um canto partido.
Performance para Câmera: Ana Montenegro
Foto de Hilda Helena Dias.

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