segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Políticos em Campos escolhem os diretores de escolas



Apesar de ser uma unanimidade negativa entre especialistas em educação, a escolha de diretor de escola por indicação da prefeitura ou do Estado é o método mais comum no Brasil. Dados tabulados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, do MEC.

Esse é o método mais criticado por ser menos transparente e por permitir que o cargo fique sujeito a nomeações político-partidárias.

A eleição do diretor ou a escolha por meio de concurso público, métodos considerados mais democráticos ou meritocráticos, são práticas pouco habituais no sistema público. O percentual de diretores eleitos no país é de 19,5%. A proporção de concursados é menor: 9,2%.

Em apenas cinco Estados o percentual de eleitos supera o de nomeados: Acre (onde 72,3% foram escolhidos por eleição), Paraná (58,8%), Rio Grande do Sul (50,9%), Mato Grosso (48,3%) e Mato Grosso do Sul (44,6%).

Já a proporção de escolhidos por concurso só supera a de nomeados em um único Estado: São Paulo, onde 51,8% dos diretores passaram por concurso público.

"A escolha por indicação é a pior forma por colocar na escola uma pessoa que não tem vinculação com o sistema educacional. É claro que, em alguns casos, pode existir algum critério nessa indicação, mas, na maior parte das vezes, a escolha é político-partidária

"A pior coisa que pode acontecer para a escola é a descontinuidade. É por isso que a nomeação política é um retrocesso porque muda a direção todas as vezes em que há troca de prefeito ou mesmo de um deputado ou vereador que muda de partido".

Além de ser a forma mais criticada por especialistas, a indicação política é, segundo o Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação), a que tem mais impacto negativo no desempenho dos estudantes. No exame de 2003, em todas as seis provas (são aplicados testes de português e matemática para alunos de quarta e oitava séries e do terceiro ano do ensino médio), os alunos que estudavam em escolas dirigidas por diretores nomeados politicamente tinham o pior desempenho. Os melhores desempenhos foram de alunos de colégios onde a escolha foi feita por concurso ou eleição.

"Pelos resultados do Saeb, não é possível afirmar se o melhor é a escolha do diretor por eleição ou concurso porque os resultados foram muito parecidos. No entanto, a gente percebe que as notas de alunos de diretores indicados politicamente destoam negativamente das demais", afirma Nildo Luzio, coordenador de base de dados da avaliação da educação básica do Inep.

2 comentários:

xacal disse...

Professora Hilda,

Sem querer tripudiar...Mas quando falávamos em "continuidade" do modelo de gestão, esse era um dos aspectos ao qual nos referíamos...

O "aparelhamento" das escolas revela uma das faces mais nefastas do "populismo-udenista" da lapa...

Dessa distorção (básica) decorrem todas as outras na administração da Educação...

Afinal, com diretores "domesticados" pode-se manipular todos os dados, serviços e resultados onde o processo educacional se desenrola, ou seja: na escola...

Um abraço...

Hilda Helena Raymundo Dias disse...

Há uma profunda crise no campo da política.A extensão é grande podemos contatar isto pela própria natureza dos procedimentos nela implicados,há uma perversa contaminação na educação,na saúde...

Essa liderança que está hoje no município, que está sendo alvo de toda essa investigação e de toda essa suspeita, se acostumou a usar a democracia como um instrumento do seu projeto de poder. Quer dizer, instrumentalizou a democracia e as instituições democráticas para um projeto de poder. Infelizmente, com muito pesar, isso é o que está escancarado, é o que está se desnudando nesse panorama. De uma certa maneira, é um ciclo histórico que não está se encerrando. Talvez a gente não possa dizer que estamos dando adeus à ditadura militar, até nos seus aspectos de contraposição de esquerda. Com certeza, haverá novos caminhos e outras perspectivas. Acho que vai ser muito difícil, apesar de todo o esforço, no momento percebemos profundamente comprometimento com uma descaracterização das instituições da democracia.
Concordo mesmo com você pois udenismo é achar que honestidade no trato das finanças públicas é a principal qualidade do governante. Sobretudo quando se trata de virtude de fachada, de retórica de sepulcros caiados de branco.

Vejo uma salada ideológica – às vezes, com uma linguagem de extrema esquerda, mas sempre inconsistente, com uma cara de anticomunismo muito forte. Um exemplo decisivo: encheram a boca para falar em democracia nas eleições. Na verdade, comiam na mão da ideologia 'mocaibiana".

Existe um senso comum de que a política é por natureza corrupta, logo, algo em que as pessoas honestas não devem se meter. A atual crise tende a reforçar essa ideologia que leva ao desinteresse pela política, como se não fosse possível transformar nada, nem sequer elegendo um prefeito considerado de esquerda. Isso é péssimo para a democracia, especialmente para as forças interessadas em mudanças na ordem social, econômica e política.

De um ponto de vista psicológico, esse talvez seja um doscomponentes dessa crise que mais geram abatimento e frustração. É consideravelmente grande o percentual de pessoas que acreditavam que o novo governo traria consigo um elevado grau de esforço, comprometimento e boa vontade para buscar e implementar políticas públicas de justiça social, alternativas consistentes para as opções tradicionais do jogo político brasileiro, aumento das margens de autonomia para a atuação dos agentes públicos, de transparência nas decisões e negócios do Município.

É inegável que se pode detectar sinais evidentes de uma quebra de confiança, mas não posso crer que isso implique em resignação ou capitulação em relação a essas expectativas. Talvez ocorra o contrário, isto é, um incremento de ânimo na busca intransigente dessas metas e um desejo ainda mais ardente de evitar desvios e distorções no caminho que elas indicam.