domingo, 7 de dezembro de 2008
Educação - A Chave para a Mudança
Muito se fala em mudar o mundo, várias propostas são feitas, várias possibilidades são apresentadas, soluções inovadoras ou tecnologias avançadas surgem como respostas para essa necessidade urgente de salvar este mundo imperfeito que criamos.
Porém, a resposta para dar o pontapé inicial nessa jornada de refazer o que não deu certo é oferecer para todos, indistintamente para todos, o direito de aprender, a possibilidade de universalizar o ensino, permitindo que aconteça uma das coisas mais importantes em nossas vidas, o direito igual ao saber.
Saúde e segurança são desejadas por todos, são fundamentais em nossa qualidade de vida, mas é a educação de boa qualidade que garante igualdade de condições para todas as pessoas. É através dela que conquistamos nosso maior direito como cidadão, o direito de entender o mundo que nos cerca, melhorando a nossa condição de vida por mérito próprio.
Em testes internacionais recentes os melhores alunos brasileiros ficaram nas últimas colocações, abaixo da quinqüagésima posição entre cinqüenta e sete países. Nossos alunos são despreparados, o ensino no Brasil em geral é fraco e de péssima qualidade.
Pais e governos não dedicam o tempo necessário para mudar esse quadro vergonhoso de nosso País. Em pesquisa publicada na revista Veja de 20 de agosto deste ano, a reportagem afirma que: “89% dos pais consideram receber das escolas um bom serviço em troca do que pagam”. Na mesma reportagem é afirmado que: “…os pais brasileiros de todas as classes não se envolvem como deveriam na vida escolar dos filhos.
Os mais pobres dão graças aos céus pelo fato de a escola fornecer merenda, segurança e livros didáticos gratuitos. Os pais da classe média se animam com as quadras esportivas, a limpeza e a manifesta tolerância dos filhos às exigências acadêmicas muitas vezes calibradas justamente para não forçar o ritmo dos menos capazes.”
Pais despreocupados, governos omissos, professores desestimulados e despreparados, além de mal remunerados: esse quadro compromete, e muito, o objetivo de vencermos nosso maior desafio, tornar-nos uma nação em condições de alcançar um patamar digno de civilidade e desenvolvimento.
Um país desenvolvido se faz com pessoas bem preparadas, conhecedoras das suas condições e capazes de alcançar padrões de vida dignos por seus próprios méritos.
Como brasileiro cansei de ouvir que somos um País do futuro, quero ser do presente, e quero ter orgulho de meu País pelo que somos e não pelo que seremos. Quero, e acredito que toda a minha geração também, viver este novo Brasil, que seja reconhecido não por sermos bom de futebol ou termos um carnaval animado, e sim por termos superado séculos de atraso e vencido a pobreza pelo mérito de cada um e não por programas assistencialistas.
Nosso povo não quer esmola, quer estudar, trabalhar e crescer. Quer poder sonhar com uma vida melhor e conquistar as boas coisas que a vida pode oferecer com o sentimento de dever cumprido. Nosso povo merece essa chance.
Controlar a inflação, ter uma economia estável, melhorar o padrão de vida da população mais pobre, tudo isso é bom, porém, é efêmero se não investirmos nossas melhores cabeças e recursos na formação de jovens de todas as idades e, assim, darmos para nosso o País o direito de olhar com orgulho os seus feitos como nação.
Um país sem uma educação adequada jamais será sustentável.
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4 comentários:
Olá,
Após ver o filme Ensaio sobre a cegueira, que adorei, deparei com o artigo que lhes envio.
Abraços,
Norma
SABATINA FOLHA
JOSÉ SARAMAGO
A humanidade não merece a vida
Prêmio Nobel português se define como um "comunista hormonal" e afirma que os instintos servem melhor aos animais do que a razão aos homens
O ESCRITOR português José Saramago, 86, disse ontem que "a história da humanidade é um desastre" e que "nós não merecemos a vida". O autor, vencedor do Nobel de Literatura em 1998, participou de sabatina da Folha em celebração dos 50 anos da Ilustrada. O debate, assistido por 300 pessoas em um Teatro Folha lotado, teve como mediador o secretário de Redação do jornal Vaguinaldo Marinheiro. Participaram também, como entrevistadores, o crítico Luiz Costa Lima, a repórter da Ilustrada Sylvia Colombo e Manuel da Costa Pinto, colunista do caderno.
DA REPORTAGEM LOCAL
HUMANIDADE
A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Esta raiva que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras -no plano privado e no plano público.
MARXISMO HORMONAL
Desde muito novo orientei-me para a consciência de que o mundo está errado. Não importa aqui qual foi o grau da minha militância todos esses anos. O que importa é que o mundo estava errado, e eu queria fazer coisas para modificá-lo. O espaço ideológico e político em que se esperava encontrar alguma coisa que confirmasse essa idéia era, é claro, a esquerda comunista. Para aí fui e aí estou. Sou aquilo que se pode chamar de comunista hormonal. O que isso quer dizer? Assim como tenho no corpo um hormônio que me faz crescer a barba, há outro que me obriga a ser comunista.
CRISE ATUAL
Marx nunca teve tanta razão quanto agora. O trabalho constrói, e a privação dele é uma espécie de trauma. Vamos ver o que acontece agora com os milhões de pessoas que vão ficar sem emprego. A chamada classe média acabou. Ou melhor: está em processo de desagregação. Falava-se em dois anos [para a recuperação da economia depois da crise financeira]; agora já se fala em três. Veremos se Marx tem ou não razão.
DEUS E BÍBLIA
Por que eu teria de mudar [a concepção de Deus após a doença]? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus não existe. Salvo na cabeça das pessoas, onde está o diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida. Inventamos o inferno, o paraíso e o purgatório. Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos. O sonho da igreja sempre foi nos transformar em eunucos. A Bíblia foi escrita ao longo de 2.000 anos e não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente. Só tem maus conselhos, assassinatos, incestos...
RELAÇÃO COM PORTUGAL
Espalham por aí idéias sobre minha relação com meu país que não estão corretas. Saímos [Saramago e sua mulher, Pilar] de Lisboa [para a ilha de Lanzarote] em conseqüência de uma atitude do governo, não do país nem da população. Mas do governo, que não permitiu que meu livro ["O Evangelho Segundo Jesus Cristo"] fosse inscrito num prêmio da União Européia. Nunca tive problemas com o meu país, mas com o governo, que depois não foi capaz de pedir desculpas. Nisso, os governos são todos iguais, dificilmente pedem desculpas. Fomos para lá e continuamos pagando impostos em Portugal. Agora temos duas casas. Mudei de bairro, porque o vizinho me incomodava. E o vizinho era o governo português.
ACORDO ORTOGRÁFICO
Em princípio, não me parecia necessário. De toda forma, continuaríamos a nos entender. O que me fez mudar de opinião foi a idéia de que, se o português quer ganhar influência no mundo, tem de adotar uma grafia única. Se Portugal tivesse 140 milhões de habitantes, provavelmente teríamos imposto ao Brasil a nossa grafia. Acontecem que os 140 milhões estão no Brasil, e o Brasil tem mais presença internacional. Perderíamos muito com a idéia de que o português é nosso, nós o tornaríamos uma língua que ninguém fala. Quando acabou o "ph", não consta que tenha havido uma revolução.
LITERATURA BRASILEIRA
Houve um tempo em que os autores brasileiros estavam presentes em Portugal, e em alguns casos podíamos dizer que conhecíamos tão bem a literatura brasileira quanto a portuguesa. Graciliano Ramos, Jorge Amado, os poetas, como João Cabral [de Melo Neto], Manuel Bandeira, essa gente era lida com paixão. Para nós, aquilo representava a voz do Brasil. Agora, que eu saiba, não há nenhum escritor brasileiro que seja lido com paixão em Portugal. Culpo a mim, talvez, por não ter a curiosidade. Mas também não temos a obrigação de descobrir aquilo que nem sabemos se existe.
LEITOR
O leitor me importa só depois que escrevi. Enquanto escrevo, não importa, porque não se escreve para um leitor específico. Há dois tempos, o tempo em que o autor não tinha leitores e o tempo em que tem. Mas a responsabilidade é igual, é com o trabalho que se faz. Agora, eu penso nos leitores quando recebo cartas extraordinárias. É um fenômeno recente. Ninguém escreveu a Camões, mas hoje há essa comunicação, essa ansiedade do leitor.
"Em nome de todos os brasileiros, obrigada por existir", disse alto, ao final da sabatina, uma integrante da platéia, enquanto Saramago terminava de falar.
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Assista ao vídeo da sabatina
www.folha.com.br/0833310
Oi Ilda,
me envia teu e-mail. como não tenho envio o artigo, pois sei, vais gostar.
Bjos,
Norma
Como interpretar o vandalismo nas escolas? PDF Imprimir E-mail
26 de Novembro de 2008
Para a professora Dagmar Maria Leopoldi Zibas o vandalismo praticado é um protesto contra a completa desesperança de encontrar na escola a chave para um futuro melhor
fonte: Folha de São Paulo (26.11.2008)
Dagmar Maria Leopoldi Zibas (*)
Depois das impactantes impactantes imagens da depredação da escola estadual Amadeu Amaral por seus alunos, em São Paulo, e da desmedida repressão policial, diversos especialistas vieram a público para opinar sobre o lamentável episódio.
O diagnóstico de decadência institucional, como levantado pelo professor Sérgio Kodato em entrevista a esta Folha (Cotidiano, 13/11), tende a ser consenso entre os analistas. O que falta é mapear a exata dimensão desse processo e aprofundar o debate sobre as soluções.
Remontar à origem da decadência do sistema público não é tarefa fácil.
As esferas oficiais tendem a minimizar suas responsabilidades, relacionando as dificuldades constatadas ao grande aumento da matrícula em todo o ensino básico. Mais difícil é reconhecer os efeitos deletérios das políticas dos anos de 1990, que, em São Paulo, são maximizados pela prolongada continuidade político-administrativa no Estado.
Na base dessas políticas está o argumento de que os recursos destinados à educação não precisariam ser aumentados, mas apenas mais bem administrados.
A decantada valorização do magistério não contemplou aumento de salários que tornasse a carreira docente atraente para jovens mais bem formados. Ao contrário, os professores foram considerados "insumos" secundários, abaixo, por exemplo, da necessidade de distribuição de livros didáticos.
Nessa abordagem, o alarmante problema da repetência foi "resolvido" pela adoção de fato da promoção automática, sem que a escola fosse equipada com instrumental adequado para a recuperação de alunos com aprendizagem defasada.
O vandalismo praticado é uma forma caótica de chamar a atenção para os repetidos erros e omissões das políticas educacionais. É um grito de revolta pela precariedade das instalações e dos recursos didáticos, pela debilidade da formação do magistério e pelas sofríveis condições do trabalho docente. É um protesto difuso, explosivo e não elaborado, mas claramente voltado contra a implacável deterioração institucional, a inutilidade da freqüência às aulas e a completa desesperança de encontrar na escola a chave para um futuro melhor.
Infelizmente, o grau de rebaixamento de todo o processo educativo é de tal ordem que nossos jovens não possuem instrumentos para construir canais mais produtivos para expressar suas frustrações.
Nesse sentido, vale lembrar o exemplo dos secundaristas chilenos, que, desde 2006, estão organizados em um movimento de rebelião, às vezes latente e outras vezes explícito, que já rendeu a aprovação de uma nova legislação educacional e alçou os estudantes daquele país à condição de atores políticos essenciais na cena educacional.
Entre nós, as soluções para o fracasso do sistema público são conhecidas e se traduzem em antigas reivindicações dos educadores: adequada formação inicial e continuada dos docentes, valorização do magistério, com melhores salários e correspondente responsabilização pelo trabalho realizado, dedicação de tempo integral dos professores a um só estabelecimento, maior permanência diária dos alunos na escola, recursos didáticos ricos e variados (laboratórios, internet, biblioteca, equipamentos esportivos, dispositivos multimídia).
Aulas expositivas instigantes, desenvolvimento de projetos interdisciplinares, pesquisas em laboratórios, em bibliotecas, na internet ou no meio social circundante, acompanhamento individualizado das dificuldades e dos progressos de cada estudante, visitas a museus, acesso a teatro, concertos, cinema -tudo isso constitui procedimentos didáticos que se complementam.
Com tal estrutura e com tal dinâmica, a motivação para o ensino e para a aprendizagem estaria restabelecida, e banida definitivamente a eclosão de violência.
Esse dispendioso projeto é uma utopia ou o Brasil poderia dispor de recursos para realizá-lo? O artigo de Janio de Freitas, na Folha de 13/11, divulga alguns dados do Ipea que podem ajudar a responder a essa questão: de 2000 a 2007, o valor destinado à educação no Brasil foi de R$ 149,9 bilhões; no mesmo período, o valor reservado para pagar juros aos compradores de títulos da dívida pública foi de R$ 1,268 trilhão.
Claramente, esse "vandalismo" praticado em cima de nossos recursos supera em muito o vandalismo nas escolas.
Dagmar Maria Leopoldi Zibas , pedagoga, é mestre em psicologia da educação pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e doutora em educação pela USP. Desde 1983, foi pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, aposentando-se em 2008.
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Cara Hilda,
Nossas preocupações com a Educação, no seu caso como profissional, e no meu, como pai, são bem parecidas...
No entanto, como já mencionei no texto que você, generosamente, publicou aqui (o ciclo do fracasso), não enxergo mudanças estruturais de curto prazo...
Vivemos um período de universalização do acesso ao ensino, que expande a clientela sem, na contrapartida, conseguir estabelecer patamares mínimos de qualidade...
Fenômeno semelhante tem acontecido com o ensino superior...
Temos quantidade de alunos, mas carecemos de qualidade de ensino...
Após anos de desregulamentação neoliberal da Educação, com o desmonte da carreira pública do magistério, adoção de premissas privatistas e tortas de avaliação e planejamento, será necessário retomar o senso de coletividade republicana de nossas escolas...
Uma tarefa e tanto...
Infelizmente, por aqui, em nossa cidade, parece que enfrentaremos mais oito anos de maquiagem e factóides...
Vivemos um momento especial da história da humanidade. Grandes transformações estão ocorrendo em todo o planeta, com grande velocidade e difícil dimensionamento.
A informatização da sociedade é presente em todo o mundo e mesmo em países como o Brasil, onde as desigualdades sociais e regionais são muito grandes, ele é determinante, principalmente em termos de mercado de trabalho. Em relação aos sistemas de comunicação o Brasil está plenamente inserido no mercado planetário, estando o maior grupo de comunicação brasileiro - a Rede Globo de Televisão - associado a um dos cinco maiores conglomerados de comunicação do mundo.
Esta distância entre o mundo da informática e da comunicação com o mundo da educação é muito grande, induzindo-nos a pensar num impasse. Tem sentido continuarmos investindo neste sistema que não consegue dar conta destas transformações? Está claro que necessitamos de muito mais do que simplesmente aperfeiçoar o sistema. O momento exige uma profunda transformação estrutural do sistema educacional.
Este contexto de mudanças impõe-nos uma reflexão mais profunda sobre os nossos sistemas educacionais, ainda centrados em velhos paradigmas, muitas vezes enfatizando apenas a formação de mão de obra, sem perceber a velocidade com que o mundo se transforma.
"É preciso libertar o homem dos preconceitos, das certezas absolutas, do mandonismo, da visão estreita, material e materialista das coisas, centrá-lo em meio ao caos, esta é a razão de ser da educação – o restante é periférico. Nova Ordem Educacional pertence à “massa de consciência” que fará a mudança necessária, em formação por todo o mundo".
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